No auge da indústria do vinil, o lado A dos discos era destinado às músicas mais comerciais dos artistas, e no lado B se concentravam as mais alternativas e autênticas. Na visão de alguns deles, seus melhores trabalhos estavam ali.
Foi essa a inspiração de Gadiamb B para incluir um B em seu nome após quatro anos de ensaios desde a formação desta banda paulistana e a reformulação do seu trabalho. Gadiamb abraça seu lado B e lança seu primeiro álbum de estúdio, que surge instrumental e diversificado.
Inicialmente concebido com reverência à produção de Afro-Funk nos anos 70 em países como Gana, Nigéria e Benin, o projeto buscou influências nos ritmos e sonoridades de bandas e artistas como Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou, Ebo Taylor, Peter King, Marijata, Ogyatanaa Show Band e Gyedu-Blay Ambolley.
Nas oito faixas que compõe o repertório, a referência do afro-funk aparece em meio a tantas outras - o beat afro das baterias foi preservado, porém o som agora caminha para o groove, com influências do jazz e de ritmos brasileiros e caribenhos.
“Marie Não Fui Eu” resgata o highlife nigeriano num convite para remexer a cintura. Na curta letra bem humorada em francês e português, Marie (Juçara Marçal) tenta descobrir numa conversa - com Kiko Dinucci - quem pegou seu croissant. Já em “Xangô”, Anaïs Sylla brinca com as palavras em francês para declarar: a Justiça é morta.
Apresentando uma fusão de ritmos dificilmente rotulável, Gadiamb B nos oferece um álbum notável, potente e intemporal, livre de gêneros e modas.
Categoria: música brasileira, rare groove
• Edição limitada DeLuxo de 200 cópias exclusivas;
• Disco de 180gr preto prensado pela Polysom;
• A capa é o nosso modelo de capa dura empastada gatefold.
• As artes são xilogravuras assinadas por Edson Ikê;
• Capa: Impressão 3x0, tinta Pantone sobre papel off-set alta-alvura;
• Forro: Impressão 3x0, tinta Pantone sobre papel offset alta-alvura;
• Rótulos: Impressão 2x0, tinta Pantone.
A1. BONS TUYAUX (Gadiamb b) 4:10
A2. XANGÔ (Gadiamb b) 2:59
A3. MARIE NÃO FUI EU (Gadiamb b, Juçara Marçal, Kiko Dinucci) 2:56
A4. LINHA AMARAELA (Gadiamb b) 3:31
B1. COIÓ (Gadiamb b) 3:52
B2. RADIO CARIBE (Gadiamb b) 5:33
B3. SABIA (Gadiamb b) 3:58
faixa bônus lp:
B4. POMBO MECÂNICO (Gadiamb b) 4:37
com
MATTHIEU HEBRARD baixo acústico
MAURICIO FREIRE guitarra
PAULO BENTO flauta
REKA ORTEGA bateria
ROMULO NARDES atoke [a1], congas [a2, a3, a4, b1, b2], cowbell [a3, b1, b2], karkabou [a4], panderola [b1, b4], maracas [b2], triângulo [b3], sementes [b4], flexatone [b4]
participações especiais:
ANAÏS SYLLA voz [a2]
KIKO DINUCCI guitarra [a2], voz [a2]
JUÇARA MARÇAL voz [a2]
Gravado ao vivo no YB Music (São Paulo) em abril 2018 com João Antunes, Fernando Rischbieter e Frederico Pacheco.
Mixado por Daniel Bozzio [DvBz] no estúdio Fine Tuning (São Paulo).
Masterisado por Carlos 'Cacá' Machado no estúdio YB Music (São Paulo).
Arte da capa Edson Ikê
Adaptação e diagramação vinil Frederic Thiphagne
Fotos José de Holanda
Editora YB Music
Gadiamb B dedica esse disco a :
Luiza, Roberta, Estela, Marina, Edison Martini Ortega, Vera Lucia de Castro Ortega, Helena, Laura, Leon, Luiza, Marie.
Gadiamb B agradece pelo apoio:
Mauricio Tagliari, Benoni Hubmaier, Carlos Machado, Daniel Toledo, Marcelo Cabral, Sthe Araújo, Isadora Bertolini, Chris Hidalgo, Thiago França, Les 3 Merveilles, Thabata da Fonseca, Rebeca Gouveia, Fred da Goma.
Gadiamb B é um álbum que registra um processo, uma transformação, é a fotografia do momento. Já são quatro anos de ensaios desde a formação desta banda paulistana. No começo, a proposta era de um projeto de afro-funk com reverência à produção do gênero nos anos 70 em países como Gana, Nigéria e Benin. Ecoava a obra da Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou, reverberava o legado de Ebo Taylor e levava para os palcos, além de um repertório próprio, versões de artistas como Peter King, Marijata, Ogyatanaa Show Band e Gyedu-Blay Ambolley. A audição deste trabalho atual é uma surpresa para quem conheceu a banda nesta fase anterior.
Nas sete faixas que compõe o novo repertório, a referência do afro-funk aparece em meio a tantas outras – do jazz à brasileira de Hermeto Pascoal, ao balanço caribenho e o soul-jazz norte-americano dos anos 70 – e alcança o inclassificável. Não é exatamente jazz porque não tem tanto solo nem improviso. O rótulo do funk também seria uma redução. É possível identificar também algo de hip hop (timbres, a levada da bateria, um clima), mas passa longe de se enquadrar no estilo rap – até porque é um som predominantemente instrumental, exceção às participações vocais em duas faixas. É mais, vai além, tateia um novo território.
A formação clássica do rock and roll (guitarra, baixo e bateria) encontra um bom diferencial no uso da flauta de Paulo Bento. Este elemento interfere positivamente no DNA da banda, na construção do groove, cria riffs e estabelece um diálogo interessante com o baixo acústico de Matthieu Hebrard: o sopro agudo e as notas graves ora se entrelaçam em uma mesma cadência, ora disparam em direções diferentes e essa dinâmica oferece um bom equilíbrio. O uso recorrente do arco pelo baixista é outra boa sacada, que insere um som mais áspero e inesperado.
É interessante também a função assumida pela guitarra de Mauricio Freire. Até rola um solo ou outro, mas nunca recorre ao virtuosismo sem direção e geralmente ela serve mais ao ritmo com muito suingue na mão direita e uma boa conexão com a bateria versátil de Reka Ortega. O percussionista Romulo Nardes (Bixiga 70) é convidado em todas as faixas e contribui para deixar o todo o ambiente rítmico com um sabor mais latino. A cantora Juçara Marçal e o guitarrista Kiko Dinucci (ambos do Metá Metá) participam da balançadíssima “Marie Não Fui Eu”, um convite para remexer a cintura à moda do highlife nigeriano. Outra participação é da cantora Anaïs Sylla que improvisa em francês na faixa “Xangô”.
Há uma possível associação com o trabalho de bandas como a alemã Karl Hector & the Malcoms e a britânica Heliocentrics na combinação de várias influências para fazer surgir algo novo. O caminho está aberto e outras boas surpresas hão de surgir nas próximas curvas.
Ramiro Zwetsch / Patuá Discos / Radiola Urbana / julho de 2018