Alguns anos atrás, Letieres Leite reuniu em Salvador um grupo seleto e eclético de músicos, uns vinte e poucos, negros, mestiços e brancos – todos eles associados às vertentes mais populares ou mais clássico-eruditas da música que se faz na Bahia. Egressos das orquestras de concertos, dos conjuntos de baile, dos terreiros de candomblé, dos clubes musicais cultivadores do jazz e das vanguardas mais recentes do pop internacional, esses músicos se juntaram sob a regência de Letieres, ele, multiartista interessado em promover resgates e impulsionar avanços na música da Bahia e do Brasil.
Inspirado no grande mestre pernambucano Moacir Santos, que o antecedera em algumas décadas nesse mister de estimular a fusão mais abrangente e profunda das linguagens nas músicas afro-americanas (a estadunidense, a cubana e brasileira), Letieres realizou, no breve período que a vida lhe concedeu, um trabalho de grande envergadura que deixa registrado agora neste disco que nos chega às mãos. Em torno de alguns conceitos amplos de ancestralidade e modernidade e de elementos rítmico-harmônico-melódicos de grande personalidade, Letieres nos oferece neste disco um pouco, um gosto, um gesto, um beijo do seu imenso legado.ra registrada em disco em 1958/59, mas para ser ouvida, entendida e admirada nos tempos atuais.
Gilberto Gil